Resumo do texto:
O futebol movimenta quase 50 bilhões de reais por ano no Brasil - isso representa 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto).
Os direitos de transmissão e as receitas provenientes são importantes para esse montante.
A negociação deve ser coletiva - conseguimos separar os produtos com tv aberta, fechada, pay per view e vemos quem quer comprar cada produto, conseguindo rentabilizar melhor;
A pandemia veio para acelerar processos e é necessário entender se a MP será convertida em lei ou não;
O futebol tem três pilares para monetização: as receitas do dia de jogo, patrocínios comerciais e a televisão;
A demanda por uma infraestrutura de telecomunicações adequada ainda é evidente.
A crise e o coronavírus estão acelerando as evoluções e mudanças em relação a modelos tradicionais de direitos de transmissão no futebol. Em debate no evento internacional WFS-Live, convidados discutiram as perspectivas dos direitos de comunicação no Brasil.
A MP 984 de 18 de junho de 2020, traz em seu texto que pertence ao clube mandante o direito de arena sobre o espetáculo desportivo, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, do espetáculo desportivo.
Marcos Motta, da Bichara e Motta Advogados, fundador do Hubstage e embaixador do sportainment no Brasil, participou como convidado do painel sobre direitos de transmissão no Brasil ao lado do Vice-Presidente da Federação Paulista de Futebol, Mauro Silva, Guilherme F. Figueiredo, da TVN Sports e Guilherme Bellintani, Presidente do Esporte Clube Bahia. O debate foi moderado por Gustavo Hazen, da EY (Ernst & Young).
Discussão sobre a Medida Provisória 984
O futebol movimenta quase 50 bilhões de reais por ano no Brasil - isso representa 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto). Os direitos de transmissão e as receitas provenientes são importantes para esse montante. Para o convidado, Mauro Silva, a MP 984 é um avanço com relação aos direitos de transmissão, mas ainda não é suficiente. “Esse avanço é importante pois saímos da idade da pedra, mas, para o futebol brasileiro a negociação deve ser coletiva - conseguimos separar os produtos com tv aberta, fechada, pay per view e vemos quem quer comprar cada produto, conseguindo rentabilizar melhor”, explica.
De acordo com o Presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, a Medida Provisória traz a redemocratização do futebol. “Ela alinha ao futebol do mundo. Não trouxe a negociação coletiva como obrigatoriedade, mas, induz essa negociação”, diz. O convidado apresenta a justificativa sobre o aumento de jogos que os clubes poderão firmar com a nova legislação. “Dez clubes, por exemplo, se uniam na antiga legislação brasileira e tinham o direito de negociar 90 jogos. A partir de agora, 190. O acréscimo tira jogos que estavam na penumbra - o futebol se torna mais claro e aberto para maiores discussões”, fala.
Para o advogado Marcos Motta, a pandemia veio para acelerar processos e é necessário entender se a MP será convertida em lei ou não. “O futebol tem três pilares para monetização: as receitas do dia de jogo, patrocínios comerciais e a televisão”, conta. Para Motta, o mercado se adapta com a dinâmica dos novos direitos de televisão, mas, é preciso ter em mente que o produto será o futebol brasileiro.
O profissional da TVN Sports, Guilherme Figueiredo, diz que a Medida Provisória 984 traz, em termos de conteúdo, algo que precisava ser feito. “Os clubes tinham que tomar cuidado para não cair na armadilha de uma negociação individual e trabalhar coletivamente. Pequenos clubes começam a ganhar força. Algo será fundamental para essa nova etapa de monetização: a criatividade”, explica. O convidado fala sobre a evolução que as lives de shows durante a quarentena propiciou, onde em outro cenário, levaria no mínimo 10 anos para alcançarmos.
Entregar os direitos aos mandantes faz com que nenhum jogo fique de fora ou seja anulado a partir da legislação. Se a MP 984 vai refletir numa melhor divisão, dependerá da capacidade de união dos clubes. “Já temos um objetivo atingido pela Medida Provisória, que é aumentar o “bolo” (referindo ao número de clubes) na hora que ela recoloca diversos jogos que estavam fora do cardápio comercial brasileiro. Esse é um efeito imediato”, explana Bellintani, do Esporte Clube Bahia.
O produto Futebol Brasileiro
Com a MP, cada clube conseguirá precificar o seu produto através de meios alternativos de distribuição de conteúdo. Nas palavras de M. Motta, o futebol como produto precisa se reinventar. “Temos que segmentar e maximizar os ganhos, mas, ter a inteligência de um produto aqui no Brasil. Naturalmente os blocos (de clubes) vão se formar e ajustes serão feitos. Temos que encontrar o nosso modelo correto”, justifica.
Com meios alternativos para distribuir esses produtos, a demanda por uma infraestrutura de telecomunicações adequada é ainda mais evidente. A segmentação ganhará força. O OTT (conteúdo transmitido pela internet, seja ou não ao vivo) é parte disso. Para G. Figueiredo, uma plataforma própria, complementando o canal de YouTube e conteúdos para as redes sociais será fundamental. “Há conteúdos para todos envolvidos da cadeia. O mercado que se abre está em aproveitar o comportamento do consumidor que já existe hoje”, diz.
Um dos modelos de transmissão questionado foi o NBL League Pass - uma plataforma própria de venda direta ao consumidor do conteúdo da NBL. Na opinião de Figueiredo, ele pode ser aplicado ao futebol brasileiro. “É possível comprar com diferentes visões e momentos da partida. O NBL League Pass soube criar o trabalho de conteúdo e segmentações”, responde.
A importância do agrupamento de clubes para decisões em comum, atrairá mais concorrência e auxilia os clubes a tirarem o máximo de proveito dos direitos nacionais e internacionais, olhando o desenvolvimento dos times como um todo. Para M. Motta, a motivação para a criação do bloco deve estar em torno do produto futebol brasileiro.
O assunto é polêmico e de extrema importância. A Medida Provisória gera uma discussão sobre o futuro dos direitos de transmissão do futebol, atrelado a evolução da tecnologia. A união dos times é imprescindível para que possamos focar no produto futebol brasileiro para que o consumidor seja o principal beneficiado.
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